domingo, 11 de agosto de 2013

Gerundismo

        Gerundismo  foi um termo criado para designar a prática de utilizar o gerúndio em demasia no discurso, de forma a se tornar um vício de linguagem, um modismo vocabular. É um hábito que o falante adquire e que perante a linguagem padrão é considerado errôneo.
      Há um mito de que este fenômeno ocorreria entre os operadores de telemarketing, porém hoje se nota que ocorre nas mais diversas esferas da sociedade: bancários, empresários, educadores, conversas do dia a dia, etc. O motivo é um fenômeno tratado na sociolinguística chamado de “hipercorreção”, ou seja, o falante, por receio de cometer algum deslize e acabar saindo da linguagem padrão, adquire manias que  lhe parecem o modo mais correto de falar, e acabam infringindo a norma da mesma maneira.
Alguns chegam a defender que não há problemas com a prática do gerundismo, mas vejamos:

- O gerúndio expressa uma ação em curso (contínua) ou uma ação simultânea a outra, exprimindo a ideia de progressão indefinida, ou seja, não se denota o final, a conclusão da ação.
A questão é que ações como transferir, aguardar, reservar, etc. não necessitam da noção de continuidade que o gerúndio expressa, já que são ações rápidas e pontuais. Pode-se então desprezar esta noção, já que não é necessária, e utilizar o verbo na sua forma conjugada ou no infinitivo.
O gerúndio é uma forma nominal do verbo constituída por um verbo auxiliar + um verbo com a terminação NDO.

Como usar corretamente o gerúndio sem virar um gerundismo?

- É correto usar o gerúndio quando se quer expressar uma ideia ou ação que ocorre simultaneamente a outra, no passado ou no futuro.
“Amanhã, quando você estiver fazendo a apresentação, eu estarei realizando os meus exames.”
- É correto usar o gerúndio quando se quer expressar uma ação contínua sem determinar a conclusão da mesma.
“Eles foram caminhando pelas ruas sem saber para onde ir.”
- É correto usar o gerúndio quando se quer expressar uma ação em curso, em qualquer tempo verbal.
“Amanhã neste horário, vou estar viajando de férias.”
“Não me ligue muito cedo, pois acho que ainda estarei dormindo.”
Mais exemplos de GERUNDISMO:
Um minuto, que eu vou estar verificando seu cadastro.
Vou estar transferindo sua ligação.
Desculpe, senhora, mas estamos tendo que fazer tudo manualmente.
Vamos estar encaminhando sua solicitação.

Perceba que nos exemplos de uso incorreto do gerúndio há um excesso de formas verbais, que é desnecessário:

IR + ESTAR + ENCAMINHAR (vou estar encaminhando) = ENCAMINHAREI

Conclui-se, pois, que o gerúndio é uma forma verbal existente na língua e que pode ser utilizada normalmente, mas o seu uso desnecessário e excessivo constitui um vício de linguagem chamado GERUNDISMO, e que pode vir a atrapalhar até mesmo a fluência da comunicação se usado em demasia.


         Veja o que o Professor Pasquale Cipro Neto fala a respeito do gerundismo:

* O uso do "gerundismo" é tão comum quanto criticado. Seu uso é mesmo incorreto?

         O problema é que existe uma distorção em relação a isso. Há pessoas que analisam mal a questão e dizem que a construção em si, “verbo ir + verbo estar + gerúndio”, é errada, e não é. A construção em si existe, é da língua. O que há de equivocado é o caso específico do uso numa situação que não mostra um fato simultâneo a outro. Como, por exemplo, “você tem que estar pegando uma senha”. Esse uso é horrível! Porque ninguém tem que “estar pegando uma senha”, tem que “pegar uma senha”. Pegar é uma coisa imediata, pontual. A mesma coisa vale para “vou estar enviando um fax”. Oras, enviar um fax é apertar um botão! Mas “nessa hora vou estar dormindo” é perfeitamente possível. Ou “enquanto você estiver trabalhando, eu estarei dando aula”. A interseção temporal é significativa. É uma coisa que tem uma duração, um processo.